O rebaixamento do Ceará, na derrota desta quarta para o Avaí, se tornou tragédia anunciada já há algum tempo. O pior, mesmo diante da dor do torcedor e das perdas (presentes e futuras), é saber que ‘tragédia’ mesmo seria permanecer na série A desta forma. Sim, porque o Ceará precisa ser refeito, reinventado.
O rebaixamento, assim como acontece na queda de uma aeronave, se deveu a uma conjunção de fatores, erros, imprudências, falhas, omissões, soberbas, desarmonias. E não faltaram avisos (assim como em outros anos, onde permanecer na ‘A’ foi fruto de puro milagre).
Ok, a saída do técnico Dorival Júnior foi um divisor de águas (e aqui não discuto satisfações, compromissos ou necessidades do hoje campeão da Libertadores). O que não se fala é da lama já posta antes mesmo do campeonato brasileiro, com as humilhantes desclassificações do estadual e da Copa do Nordeste. E, sim, mesmo com a saída do treinador, uma equipe bem composta ‘tocaria o barco’. Mas a embarcação de Porangabussu veio a pique.
Também facilmente podem ser apontadas como motivo as inúmeras contratações desconexas com o futebol, com a responsabilidade, com o bom senso, com o mundo real. Aliás, novamente nada de novo em terras alvinegras. Nenhuma novidade se falar de grandes e desastrosas apostas.
Do mesmo modo, claramente pode ser apontado algum grave problema interno (que precisa e deve ser revelado), responsável pela falta de gana, falta de união, falta de meta, falta de tudo em campo.
Mas, para mim, o maior problema do Ceará, que possa justificar o rebaixamento e a mediocridade, reside nele mesmo. E esse caso me parece endêmico. O Ceará precisa mudar, reformular, refazer seu PENSAMENTO enquanto clube, enquanto equipe, enquanto propósito. Os anos de série A não foram suficientes para mostrar o caminho, e isso é inaceitável.
O Ceará precisa abandonar o complexo de vira-lata. Não se ganha nada trabalhando apenas para permanecer, festejando a medíocre permanência. Falamos de esporte aqui e, no esporte, se briga pela vitória. Por sinal, já faz um bocado de tempo que a vitória passou a valer 3, e não mais 2 pontos. Sendo assim, a ‘briga’ pelo ponto único do empate se tornou inócua, sem valor, sem moral. Enquanto que a luta pelos 3 pontos da vitória mostra a direção mais óbvia. Perto de Porangabussu, bem ali no Pici, isso claramente foi entendido. Assim como a saudável ambição pelas conquistas, pelo crescimento.
O que falta para o Ceará ‘ler’ o futebol brasileiro do primeiro escalão? O que falta para se pensar o futebol de forma profissional, com visão macro, com projeto de começo, meio e fim? O que falta para se jogar no lixo a ideia recorrente dos ‘medalhões’ que não funcionam, não entregam, não comunicam, não interagem, não somam, não jogam?
Ano que vem a divisão de elite vai receber 4 gigantes, que chegarão com muito apetite. Será um ano duro para todos, de um brasileirão que promete.
“Ceará, se for para subir aos trancos e barrancos, e fazer uma série A de 2024 também ao sabor do velho ‘não vamos cair’, vai uma dica: fica na B. Até o tempo da verdadeira e necessária reinvenção…”