Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o clima era técnico — até Cid Gomes pedir a palavra. Aí o tom mudou. Com aquela mistura de indignação e didatismo que é marca registrada do clã, o senador cearense disparou: “Isso é uma mamata das grandes”, referindo-se ao lucro do mercado financeiro com os juros da dívida pública. À sua frente, a pouco mais de 1 metro de distância, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ouviu tudo, comedidamente, como quem sabe que com os Ferreira Gomes não se negocia silêncio.
Cid foi direto, provocador, atrevido até — no melhor estilo de casa. Porque se tem uma coisa que não se pode tirar dos Ferreira Gomes é essa coragem (ou teimosia?) de dizer o que pensam, sem rodeios. Cid pode ser o mais contido da família, mas no conteúdo, sua fala ecoou o pensamento do irmão mais velho, Ciro. A crítica à autonomia do Banco Central, a denúncia do “Robin Hood ao contrário”, a desconfiança de que o sistema está a serviço dos rentistas — tudo isso poderia estar num palanque cirista, só que com mais decibéis.
Curioso notar que, mesmo em campos políticos diferentes, os irmãos seguem em sintonia em muitos temas centrais. Cid está no PSB, em aliança com o governo; Ciro, isolado no PDT e com críticas ferozes a Lula. Mas, no fundo, o diagnóstico sobre os problemas do Brasil tem mais pontos em comum do que se imagina. É por isso que, nos bastidores, sempre há quem aposte numa reaproximação futura.
E convenhamos: se na política até adversários históricos já se abraçaram em nome da conveniência, que dirá dois irmãos de sangue, de ideias e, às vezes, de brigas — mas nunca de desprezo.
