Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O empresário William Rogatto, em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Senado, admitiu seu envolvimento em um esquema de manipulação de partidas de futebol, que, segundo ele, já lhe rendeu aproximadamente R$ 300 milhões. Rogatto afirmou ter rebaixado 42 clubes em diferentes competições, tanto no Brasil quanto em outros nove países, incluindo a Colômbia. Ele descreveu o esquema como altamente organizado e disse que sua influência nas federações de futebol abrange todos os estados brasileiros e o Distrito Federal.
Em um relato contundente, Rogatto revelou que a manipulação de resultados no futebol é algo enraizado e comparou o sistema à corrupção na política e no tráfico de drogas.
“O esquema só perde para esses dois setores em termos de valores movimentados”, afirmou. Para ele, o futebol tem se tornado um terreno fértil para práticas ilícitas, potencializadas pelo patrocínio de casas de apostas.
Durante o depoimento, Rogatto detalhou como o envolvimento de clubes, federações e até árbitros se desdobrava. Segundo ele, as manipulações não são um fenômeno recente, mas algo que perdura há mais de 40 anos. Ele também afirmou que muitos dirigentes de clubes compactuam com as fraudes, enquanto outros são manipulados sem saber.
O empresário também destacou a complexidade do esquema, mencionando que o patrocínio de casas de apostas a clubes de futebol cria um “gatilho” para a manipulação.
“Quando uma casa de aposta patrocina um clube, o jogador automaticamente vira uma aposta”, explicou. Ele mencionou casos em que clubes pequenos, como o Santa Maria, do Distrito Federal, foram alvo de sua atuação, sendo rebaixados como parte da estratégia para lucrar com apostas manipuladas.
Rogatto também indicou que seu envolvimento não se limitava ao futebol, mas se estendia a outros esportes, como vôlei de praia e futsal. Apesar de seu papel central no esquema, ele se declarou apenas “uma ferramenta” dentro de um sistema muito maior e mais poderoso, que, segundo ele, não será facilmente desmantelado.
Ao longo do depoimento, o empresário também citou ameaças à sua vida, o que o levou a rejeitar a sugestão de uma delação premiada feita pelo senador Romário, relator da CPI.
“A delação é interessante, mas não me protege das pessoas envolvidas”, afirmou. Ele também mencionou que árbitros de confederações nacionais e da FIFA estão entre os beneficiários do esquema, recebendo propinas que ultrapassavam em muito os salários oficiais pagos por partida.
A gravidade das revelações de Rogatto levou o senador Eduardo Girão a sugerir medidas de proteção ao empresário, considerando o risco que ele corre por expor informações que podem comprometer diversas figuras influentes no esporte e na política. Em resposta, Rogatto confirmou a participação de políticos no esquema, incluindo vereadores e prefeitos, o que reforça a amplitude do problema.
O depoimento à CPI lança luz sobre um dos maiores escândalos de manipulação de resultados do futebol brasileiro, revelando uma rede complexa de corrupção que envolve atletas, dirigentes, árbitros e até patrocinadores. As investigações continuam, e o desfecho do caso poderá trazer à tona novas informações sobre as engrenagens desse esquema, que há décadas desafia a integridade do esporte.
*Com informações da Agência Senado