Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Após uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu o agravamento das tensões entre o Brasil e a Venezuela, consequência direta das recentes ações do governo de Nicolás Maduro. O principal ponto de atrito foi a quebra de acordos previamente estabelecidos entre os dois países, que visavam facilitar a transição política na Venezuela e promover um ambiente de diálogo com a oposição.
Nos últimos dias, uma série de eventos elevou o nível de tensão. Entre eles, a fuga de Edmundo González, principal opositor de Maduro nas últimas eleições, para a Espanha, após sua prisão ter sido ordenada pelas autoridades venezuelanas. A situação foi agravada pela decisão unilateral de Maduro de cercar a embaixada argentina em Caracas, que, naquele momento, estava sob responsabilidade temporária do Brasil. A embaixada abrigava opositores ao regime venezuelano, e a ação surpreendeu o governo brasileiro, que não foi informado previamente da operação.
A ausência de interlocutores importantes da política externa brasileira durante esses acontecimentos, como o assessor especial Celso Amorim e o chanceler Mauro Vieira, que estavam em missões internacionais, dificultou ainda mais uma resposta coordenada do governo brasileiro. Lula, que inicialmente mantinha esperança de mediar o diálogo entre Maduro e a oposição, viu-se forçado a admitir a crescente complexidade da crise.
Em suas declarações, o presidente brasileiro também criticou o comportamento de Maduro, afirmando que algumas de suas ações “deixam a desejar”, mas evitou sugerir uma ruptura completa nas relações diplomáticas com a Venezuela. Lula foi enfático ao dizer que o rompimento não traria prejuízo a Maduro, mas sim ao povo venezuelano, já duramente atingido pela crise política e econômica.
Ainda que tenha adotado uma postura mais crítica em relação ao regime de Maduro, Lula manteve a posição de não reconhecer os resultados das eleições venezuelanas de julho até que todos os documentos e atas eleitorais sejam divulgados de maneira transparente. A decisão reflete as suspeitas de irregularidades no pleito, que geraram protestos tanto dentro quanto fora da Venezuela.
A crise diplomática entre os dois países coloca o Brasil em uma posição delicada, com o desafio de manter uma postura firme frente às violações de direitos promovidas pelo regime de Maduro, ao mesmo tempo em que busca preservar as relações bilaterais e minimizar os impactos sobre a população venezuelana.